As mulheres são impactadas pela mineração tanto como trabalhadoras no setor, quanto sofrendo as consequências diretas dos crimes da atividade. 

Por Ananda Ridart

 

Ano passado foi compartilhado um cartaz de um bingo destinado a garimpeiros, entre os prêmios estava uma mulher, 50 gramas de ouro e objetos. O bingo foi divulgado em um grupo de WhatsApp chamado “Amigos do Rio Uraricoera”, referência a principal via fluvial usada pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, nas mensagens constava entre os prêmios uma mulher como um objeto de consumo, “Na quina uma mulher, na quadra um relógio masculino”.

Essa é apenas uma das facetas dos impactos da mineração na vida das mulheres, porém as mulheres impactada pela mineração, sofrem de diversas violências complexas que surgem através da transformação social da chegada de um empreendimento minerário em um território. De acordo com o Mapa da Violência Contra as Mulheres (2012), os sete principais estados mineradores (Pará, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Maranhão, Piauí e São Paulo) correspondem a 31,2% dos casos de violência do país contra as mulheres. Em 2016, os dados da Polícia Civil da cidade de Parauapebas, no Pará, apontavam que aproximadamente 80% dos casos de violência contra as mulheres vinham de funcionários da Vale, pelo alto grau de estresse do trabalho na mineradora.

São as mulheres que mais sofrem com o aumento do trabalho doméstico quando a poeira mineral invade as suas casas e adoece os seus filhos, são elas que são mais vulneráveis diante da violência sexual, do tráfico humano e da prostituição. Diante desse cenário, há mulheres espalhadas por todo o território brasileiro organizadas, lutando e resistindo ao avanço predatório da mineração, mesmo que os espaços de decisão e de lideranças políticas ainda sejam majoritariamente masculinos.

A socióloga Iara Reis compreende que para além disso, os homens possuem uma relação diferente com o território e quando os grandes projetos minerários chegam, eles acabam visando o lucro e o trabalho como principal preocupação. Se ‘encantam’ com a possibilidade de conseguir ter mais ganhos, enquanto são as mulheres que olham de forma mais crítica aos impactos, afinal são elas que acabam sobrecarregadas com as atividades de cuidado com o lar e com os filhos.

“Visitávamos territórios minerários em um projeto que participei da Fiocruz. Nas visitas, os homens falavam em reuniões sobre os pontos positivos da mineração e as mulheres ficavam o encontro caladas. Quando acabava, elas me chamavam no privado e relatavam a existência da poluição, onde as casas não param limpas, o adoecimento das crianças, o aumento da prostituição, do assédio, estupro e violência doméstica. Esse é o ponto de convergência entre os locais com mineração”, relata a socióloga.

No outro lado da mineração 

As mulheres encaram situações muito difíceis, seja combatendo as mineradoras ou trabalhando para elas. A mulher trabalhadora na mineração ainda é bastante desvalorizada. Elas recebem menos que os homens, mesmo trabalhando a mesma quantidade com turnos de dez horas. Normalmente não possuem local apropriado para urinar e acabam sofrendo de casos de incontinência urinária. As trabalhadoras que manuseiam equipamentos no horário noturno são colocadas em situações inseguras sem iluminação.

“A nossa luta não é contra a trabalhadora, mas ao contrário, é para garantir direitos, como o caso de mulheres que trabalham na Vale e não recebem igual aos homens”, comenta a socióloga.

Movimentio Pela Soberania Popular na Mineração