Neste 05 de abril a cidade de Marabá completa 108 anos de idade. Filha do encontro das águas dos Rios Tocantins e Itacaiúnas e das terras férteis do sudeste paraense, é também mãe acolhedora de 283 mil paraenses e migrantes de várias outras regiões do Pará e do Brasil. As homenagens à Marabá pelo seu aniversário estão registradas em outdoors espalhados pela cidade. São mensagens de esperança que nos encorajam a continuar, mas não são capazes de ofuscar a dor pela perda de 328 marabaenses, vítimas de COVID-19 até o momento.

Não nos é permitido festejar este aniversário, diante das mães, pais, filhos, filhas das famílias de Marabá que choram pelo adoecimento de seus entes queridos ocasionado pela pandemia de COVID-19; muitos desses internados, alguns em estado grave, à espera de uma unidade de terapia intensiva (UTI) que os hospitais superlotados já não possuem condições de oferecer.

Causa-nos preocupação a evolução atual do número de casos de pessoas infectadas em Marabá. As medidas de isolamento social decretadas pelo Prefeito Municipal são muitas vezes mal recepcionadas por uma parcela da população que insiste em estabelecer uma dicotomia entre a prioridade de garantia da vida e a sustentação econômica. A situação é em tudo agravada por se tratar de uma cidade polo no tratamento de saúde na região. Aqui está sedeado o Hospital Regional de Marabá (HRM) que recebe pacientes vindos dos municípios vizinhos do sudeste paraense.

De acordo com dados da própria Prefeitura Municipal, os leitos de UTI existentes no HRM e no Hospital Municipal de Marabá (HMM) atingiram a taxa de ocupação absoluta, obrigando a administração médico-hospitalar à criação de uma “lista de espera”, quando esperar pode não ser uma possibilidade. O último boletim epidemiológico publicado no domingo, 04 de abril, mostra que dos 57 leitos existentes para pacientes infectados com COVID-19 todos encontram-se ocupados, 28 deles com pacientes de outros municípios. Em relação aos leitos de enfermaria destinados também para pacientes com COVID-19, 77% encontram-se ocupados.

Este quadro demonstra o estrangulamento absoluto da rede pública de saúde de Marabá, que não tem condições de atender seus pacientes. No último final de semana, quando foram registradas uma morte a cada 06 horas, pacientes morreram à espera de leitos de UTI, já indisponíveis.

Os filhos de Marabá se somam a outros 10.727 de paraenses e 328.206 brasileiros que partiram vítimas não apenas da pandemia, mas, da gestão genocida realizada pelo Governo Bolsonaro em relação à política pública de saúde. Desde março de 2020 assistimos revoltosos ao Presidente da República manifestando-se em rede nacional para espalhar mentiras, incentivando ações há muito condenadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cientistas e infectologistas de todo o mundo, no combate à pandemia: participação em aglomerações sem uso de máscaras, incentivo ao tratamento preventivo com uso de hidroxicloroquina e atraso na compra de vacinas.

Nesse sentido, considerando a gravidade da situação em que nos encontramos com relação ao estágio atual da pandemia no Brasil, com destaque para algumas regiões, nos posicionamos e requeremos do Governador Helder Barbalho a imediata reabertura do Hospital de Campanha de Marabá com capacidade máxima de atendimento dos pacientes vítimas de COVID-19 na região sudeste do Estado do Pará; a favor da decretação de medidas mais restritivas de isolamento social no município de Marabá, com ampliação do auxílio emergencial concedido pelo Estado do Pará aos microempreendedores; e pela a aceleração do plano de vacinação na região sudeste do Pará.

Marabá, 05 de abril de 2021.

Campanha Marabá quer respirar
Comissão Pastoral da Terra – CPT de Marabá
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH
Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Universidade do Estado do Pará (UEPA), Campus VIII/Marabá
Instituto de Comunicação Popular Nós do Brejo
Associação de Defesa à Vida e ao Meio Ambiente – DEVIMA
Diocese de Marabá
Conselho Indigenista Missionário – CIMI da Diocese de Marabá
Conferência dos Religiosos do Brasil, Núcleo Marabá Rede Eclesial Pan-Amazônica, Comité Marabá-PA
Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Sociedade, Saúde e Meio Ambiente na Amazônia (UEPA/CNPq)
Núcleo de Acessibilidade, Educação e Saúde (NAES) Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (SindUnifesspa)
Faculdade de Educação do Campo – FECAMPO / UNIFESPPA
Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal do Estado do Pará – SINTSEP-PA
Instituto Federal do Pará – IFPA, Campus Rural de Marabá Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular / CEPASP Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Relações Étnico-Raciais, Movimentos Sociais e Educação – N’ubuntu / Unifesppa