“Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella” (Jorge Amado)

Por Larissa Rabelo Nunes, da página do MAM

Após ter sido ovacionado em sua estreia no Festival Internacional de Berlim, em 2019, o filme “Marighella’’ (2021), estreia do ator Wagner Moura como diretor, finalmente chega às telas brasileiras, após uma grande mobilização e luta diante do contexto político bolsonarista. O longa traz à tona a história do revolucionário baiano Carlos Marighella, peça fundamental para a queda da ditadura sendo considerado o inimigo número um contra tal regime.

Ao todo, o guerrilheiro teve quatro passagens pela prisão, sendo a primeira aos 20 anos de idade. Militou e resistiu por 33 anos no Partido Comunista do Brasil e depois fundou o movimento armado Ação Libertadora Nacional. O filme tem causado bastante polêmica desde sua produção, porque traz a cinebiografia de um líder comunista em um momento conservador da política do país, ou mesmo pela escalação de Seu Jorge para o papel principal, tendo um “empretecimento” da figura de Marighella e, como diz o diretor, “andando na contramão do cinema brasileiro que tenta, em sua grande maioria, ’embranquecer’ seus personagens”.

O fato é que “Preto”, como Marighella era conhecido pelos companheiros, ganha vida em uma interpretação brilhante do ator/cantor, e o filme torna-se um dos principais lançamentos cinematográficos do país dos últimos tempos, não apenas por suas qualidades técnicas, mas por seu valor cultural e político. Goste do biografado ou não.

O filme narra as forças fascistas da repressão que se organizaram em torno de sua caçada e na de seus companheiros, com apoio da diplomacia dos Estados Unidos e liderados por um detetive com sangue nos olhos e maldade (personagem de Bruno Gagliasso), cujo único objetivo é “matar o preto”. O contexto agressivo e repressivo em que a história se passa não encontra melhor momento para ser debatido no Brasil e o roteiro traz sutis indiretas aos autoritários contemporâneos que, de alguma forma, dialogam com os dos anos 1960.

Na contramão do que alguns hoje defendem, a obra foi atacada antes mesmo de sua estreia pelo bolsonarismo exacerbado, milícias ideológicas que encheram o site do IMDB, também conhecida como Internet Movie Database, base de dados online de informação sobre cinema TV, música e games, hoje pertencente à Amazon) com avaliações negativas . A página do filme chegou a sair do ar e, por isso, o site foi forçado a mudar suas regras de avaliação. Triste o país que faz de seus artistas inimigos do povo, está muito claro para o Brasil a tragédia que é esse desgoverno.

“Geralmente, os acusados de terroristas são os pobres, o MST, o BLM. Isso sempre me incomodou muito. 600 mil mortes por Covid que é terrorismo. 19 milhões de pessoas passando fome, é terrorismo. Amazônia pegando fogo, pra mim, é terrorismo. Um ministro da Economia com contas offshore enquanto o povo paga um imposto alto, é terrorismo”, disse Wagner Moura nesta semana de estreia do filme, em entrevista ao programa da TV Cultura Roda Viva.

Neste 4 de novembro, há 52 anos atrás, Marighella foi surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, na capital paulista, e foi morto a tiros por agentes do DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social, órgão de informação e repressão do governo brasileiro utilizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde na Ditadura Militar, em uma ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Viva o Cinema Nacional! Viva Marighella e sua resistência!
#NãoaCensura #FacistasNãoPassarão #Marighella