Membros do MAM, do Núcleo de Enfrentamento à Mineração em Caparaó e da comunidade reuniram-se no córrego da Taquara Preta, onde será perfurada uma mina

Neste sábado (19), representantes de diversas comunidades de Manhuaçu (MG) reuniram-se na Igreja São Sebastião da Taquara Preta, no córrego da Taquara Preta, para manifestarem-se contra as ações da Mineradora Curimbaba no município. O ato, que reuniu cerca de 70 pessoas, foi motivado pelo início dos trabalhos de decapeamento do solo em uma área que já recebeu a licença para a perfuração de lavra para a extração de bauxita, minério destinado à produção do alumínio.

Segundo o coordenador do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) na Zona da Mata, Jean Carlos, são muitos os motivos que tornam o início dessas atividades extrativistas inadequadas, entre eles a rapidez com a qual a licença ambiental foi concedida. “A licença foi emitida com 29 dias úteis, é uma das licenças mais rápidas da história que a gente já viu. Órgão nenhum faz isso de forma democrática, porque com 29 dias não dá para você ouvir ninguém”, afirma.

Jean, que também é técnico e gestor ambiental, ressalta que a atividade mineradora trará inúmeros prejuízos para a comunidade de Taquara Preta e para todo o município. De acordo com o técnico, para receber a licença ambiental a mineradora afirmou não haver nenhum conflito por uso dos recursos hídricos na região onde ficará situada a mina, porém, segundo informações do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Manhuaçu, a lavra ficará localizada em uma área estratégica para a captação de água que abastece a cidade. “Eles nos informaram que a captação do município de Manhuaçu acontece hoje no Manhuaçuzinho. Esse é o ‘Plano A’. O ‘Plano B’ é a comunidade, a região do Palmital. Então, se faltar água no Manhuaçuzinho, a água de Manhuaçu vem dessa região”, explica.

Sobre o ato de enfrentamento, Jean declara ser uma ação legal e legítima. “Nós estamos lutando pelo direito mais fundamental da pessoa humana, que é o direito à água e, em segundo, ao alimento. É dessa região que a gente tá vendo aqui que vem o café, a mandioca, os produtos que vão para nossa mesa”.

Para o coordenador do Núcleo de Enfrentamento à Mineração na Região de Caparó, Adão Juvenato, a ação realizada neste sábado representa um acontecimento importante para o movimento, pois não se trata de algo isolado. “É um momento de alegria para nós estarmos reunidos para defender não a causa de uma comunidade, mas sim uma causa universal. A casa comum pertence a todos nós”, enfatizou, enquanto convidava os presentes a entoarem cânticos durante o percurso entre a igreja e o local da mina, uma caminhada por cerca de dois quilômetros em estradas vicinais, rodeadas por casas e plantações.

Durante a ação, os participantes tiveram a oportunidade de manifestar suas preocupações com relação à possibilidade de terem que conviver com a mineração em suas comunidades. “A gente fica muito triste de ver isso acontecendo aqui hoje, porque a gente via isso só em televisão, muito longe da gente, da nossa realidade”, desabafa a moradora do córrego da Taquara Preta e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), Dayse Dias. A produtora rural também falou sobre seus temores em relação aos impactos ambientais causados pela atividade de extração mineral, como a contaminação dos recursos hídricos e do ar, a modificação do solo e o aumento do tráfego de veículos pesados, que irá interferir diretamente na rotina da comunidade.

Integrante do MAM na Zona da Mata e engenheira civil, Caroline Nunes, que também esteve presente na ação, questiona a promessa de crescimento econômico que comumente acompanha o discurso favorável à mineração. “O Movimento Pela Soberania Popular na Mineração faz esse enfrentamento de forma nacional contra as mineradoras, contra o poder do capital mineral que coloca o lucro acima da vida das pessoas. E aqui não é diferente. Todo mundo fala que se vier a mineradora vai gerar emprego, vai gerar renda, mas se minerar bauxita a gente corre um risco muito sério, muito grave de ficar sem água. E sem água, não tem vida, não tem agricultura”. A engenheira ainda argumenta: “Então qual é a nossa escolha? A gente quer a mineradora com esse investimento arriscado, duvidoso, que a gente não sabe, nem participa, ou queremos nossa agricultura familiar, a cafeicultura e, principalmente, a nossa água?”.

Além dos representantes já citados, também estiveram presentes o vereador Cleber Benfica (PP) e a candidata eleita à Prefeitura de Manhuaçu, Maria Imaculada Dutra (PSB), que reafirmou seu posicionamento contrário à exploração mineral no município e informou que irá articular, junto à Câmara Municipal, maneiras de barrar a mineração na cidade. “Eu estou aqui me colocando à disposição para estar com vocês para o que der e vier”, declarou a prefeita eleita.