Ao todo, mais de 25 cidades na região do Caparaó estão ameaçadas pela mineração de Bauxita pretendida pela empresa Curimbaba

Por Kelly Sousa, para o site do MAM

Cerca de 40 pessoas, representantes de cinco municípios ameaçados pela mineração na região e várias comunidades rurais, participaram da 1ª Caminhada Regional em Defesa das Águas do Caparaó e Contra a Mineração, em Manhuaçu (MG), no mês de outubro. A manifestação, coordenada pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Manhuaçu, contou também com o apoio da Prefeitura de Manhuaçu, do Serviço Autônomo de Água e Esgoto do município (SAAE) e da Secretaria Municipal de Agricultura, Indústria, Comércio e Meio Ambiente.

Durante o percurso e as paradas foram realizados momentos de confraternização ao som de músicas e versos de poesia, também foram momentos de falas importantes sobre a necessidade de proteger e cuidar das águas. “Hoje a gente trata, em média, 200, 212, 215 litros de água por segundo para abastecer Manhuaçu e a nossa cidade é uma das que mais crescem, mas também tem que crescer com sustentabilidade. Não é crescer só desmatando. Pensar na lavoura sim, mas vamos pensar pelo menos nos 20% de mata, defender as matas que existem”, afirmou o diretor do SAAE, Marcio Bahia, enquanto todos se reuniam às margens da barragem de São Sebastião.

Ao todo, 25 municípios na região do Caparaó estão sob a ameaça da mineração, sendo 22 deles situados em Minas Gerais (Manhuaçu, Simonésia, Luisburgo, São João do Manhuaçu, Santa Margarida, Manhumirim, Pedra Bonita, Divino, Sericita, Orizânia, Alto Jequitibá, Matipó, Caratinga, Lajinha, Santana do Manhuaçu, Mutum, Santa Bárbara do Leste, Caputira, Caiana, Faria Lemos, Fervedouro e Caparaó) e outros três no Espírito Santo (Muniz Freire, Ibatiba e Brejetuba).

A prefeita de Manhuaçu, Maria Imaculada Dutra (PSB), encontrou-se com os participantes e reafirmou seu compromisso contra a mineração no município. Ela também enfatizou a importância que o MAM e o Núcleo de Enfrentamento à Mineração na região do Caparaó têm na luta contra as mineradoras.

“Foi através dos movimentos que conseguimos barrar a mineradora. Se não tivéssemos começado da forma que começamos, a partir daquela reunião do dia 5 de dezembro do ano passado, hoje eles (mineradora) estariam aqui explorando nossa terra, porque já estava tudo pronto. Toda a sociedade de Manhuaçu, independente de religião, tem que abraçar esta causa, afirmou a prefeita”.

Às margens da barragem do Manhuaçuzinho, durante o encerramento da Caminhada, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Manhuaçu, Marco Antônio Domingos, falou sobre a participação do Sindicato em diversas frentes de luta, principalmente na luta pela vida. “Se estamos enfrentando o problema seríssimo da mineração que quer chegar a Manhuaçu é por conta de forças políticas que não têm nenhum compromisso com a vida. Só por isso que nós estamos aqui”, declarou, reafirmando que essas ações fazem parte de um movimento de resistência.

Ameaças e projetos de proteção

Manhuaçu é hoje abastecida pelas barragens do Manhuaçuzinho, de onde são captados cerca de 150 litros de água por segundo, pela barragem de São sebastião, com uma captação de aproximadamente 50 litros de água por segundo e por uma captação de bombeamento feita diretamente no Rio Manhuaçu. Porém, o recurso hídrico da cidade vem sofrendo graves ameaças, tanto por parte da mineradora Curimbaba, que planeja extrair bauxita em diversos pontos cruciais para o abastecimento de água do município, quanto pelo desmatamento causado pelo crescimento das plantações de café e dos chacreamentos rurais.

“A maior esponja que nós temos na bacia do Manhuaçuzinho tá com risco iminente. Ela tem 100% de mata nativa e está com risco iminente de entrar uma empresa que vai desmatar 80% e deixar só 20%. Chacreamentos que vão ser feitos lá”, contou Márcio Bahia. Como medida de enfrentamento, o diretor do SAAE afirmou que será feito um estudo visando proteger a área: “Nós vamos fazer o georreferenciamento dessa esponja natural que está lá, que é o principal ponto de recarga do lençol freático na bacia do Manhuaçuzinho”.

Além disso, Márcio falou também sobre o Projeto de Lei de Patrimônio Hídrico que está sendo elaborado para a cidade e sobre sua urgente necessidade de mudança. “Estava contemplando no [projeto de] Patrimônio Hídrico de Manhuaçu somente os pontos de captação para consumo humano. Pergunto: esses pontos de captação do Manhuaçuzinho, São Sebastião e aquela captação de bombeamento do Rio Manhuaçu, darão para [abastecer] Manhuaçu daqui há 20 anos? Acho que não dá nem pra 10, já não está dando”, alertou o diretor.

Por isso, para ampliar a proteção assegurada pelo projeto de lei, Marcio Bahia explicou que está sendo realizado um levantamento e que agora, toda e qualquer nascente, qualquer curso d’água que estiver no perímetro do município de Manhuaçu vai passar a fazer parte do Patrimônio Hídrico do município.