O mapa da mineração no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande foi realizado pelo Grupo de Estudos Avançados em Gestão Ambiental na Amazônia (GEAGAA), em resposta a demandas colocadas pelos coletivos Grupo Mãe Terra e Guardiões do Bem Viver e pela Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE), no âmbito do projeto Águas para a Vida.
Em 2024, lideranças do território solicitaram ao GEAGAA a produção de um mapa das águas do assentamento. A partir dessa solicitação, foi desenvolvido um diagnóstico socioambiental piloto, tendo como referência a bacia hidrográfica do Igarapé do Paissandu. Esse diagnóstico acompanhou os efeitos da seca severa registrada no mesmo ano e resultou no Relatório de Recomendações de Políticas Públicas (disponível em https://doi.org/10.5281/zenodo.15652331), que propôs diretrizes voltadas ao fortalecimento de comunidades tradicionais amazônicas diante de contextos de crise hídrica.
O mapeamento da mineração insere-se nesse contexto e teve como principal objetivo atualizar os dados referentes aos processos minerários incidentes no território, identificando as áreas mais vulneráveis, as movimentações recentes junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), as empresas requerentes e as fases em que se encontram esses processos. O mapa foi lançado publicamente durante o evento Pré-COP 30 no PAE Lago Grande, organizado pelo coletivo Guardiões do Bem Viver. Na ocasião, cópias impressas foram entregues ao coletivo e encaminhadas a outras lideranças do território como parte das devolutivas do projeto Águas Para a Vida.
Os dados revelam dois principais tipos de mineração atualmente presentes no assentamento. A mineração de argila, concentrada nas proximidades da comunidade de Vila Socorro, ocorre há décadas e está associada a conflitos pelo acesso à madeira para o funcionamento de olarias, especialmente com as aldeias indígenas da Terra Indígena Cobra Grande. Já a mineração de bauxita, com incidência crescente, está associada às áreas de expansão da Alcoa, empresa que já atua no município vizinho de Juruti, na área do PAE Juruti Velho, e que tem gerado tensões no interior do território do Lago Grande.
A maior parte dos polígonos de mineração identificados encontra-se nas fases de autorização e requerimento de pesquisa, com forte concentração nas regiões do Alto Lago Grande e do rio Arapiuns. As áreas com maior potencial exploratório coincidem com o topo da serra que atravessa o território, funcionando como divisor de águas regional e abrigando nascentes de diversos igarapés que abastecem o Lago Grande e o rio Arapiuns.
Entre as empresas requerentes, destacam-se a Amazonas Exploração e Mineração e a Alcoa World Alumina Brasil, que juntamente com sua subsidiária Matapu Sociedade e Mineração, respondem por mais de 80% dos processos minerários registrados no assentamento. Três polígonos foram identificados em fase mais avançada — de requerimento de lavra — e todos extrapolam os limites do PAE Lago Grande, localizando-se simultaneamente entre os municípios de Santarém e Juruti. Esses registros pertencem à Alcoa e à Matapu.
Chama atenção o polígono localizado mais ao norte, registrado em nome da Matapu, que abrange áreas no entorno das comunidades Retiro, Bom Jardim, Sete Estrelas, entre outras. Já os polígonos com movimentações mais recentes, consideradas aquelas atualizadas nos últimos cinco anos, estão situados na porção sudoeste do assentamento, em drenagens afluentes do rio Arapiuns. Esses polígonos apresentam impactos potenciais especialmente sobre comunidades situadas a montante da comunidade Igapó Açu. Dois deles pertencem à Alcoa e um à empresa PPF Group, o que pode indicar a diversificação dos grupos de investimento internacionais com interesses nos recursos do território.
Ao comparar esses dados mais recentes com as informações de campo e os produtos gerados pelo projeto “Águas para a Vida”, como o mapa da cartografia social do PAE Lago Grande, realizado pelo Co-Laboratório de Antropologia Rural e da Resistência (CoLarr) fica evidente uma zona de confluência de conflitos localizada na região do Alto Lago Grande. Nessa região, sobrepõem-se interesses minerários e madeireiros, o que contribui para a ocorrência de conflitos violentos e dispersos ao longo do território.
“Esse mapa contribui diretamente para a identificação das áreas mais sensíveis ao avanço da mineração, especialmente da mineração em larga escala, dentro do território do PAE Lago Grande. Dessa forma, as lideranças e os coletivos que atuam para a consolidação do projeto de assentamento agroextrativista podem utilizar as informações como base para definir estratégias e diretrizes de fortalecimento territorial” como explica o professor João Paulo de Cortes, coordenador da pesquisa e responsável técnico pelo mapeamento. O mapa foi produzido pelo discente do Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas Wendel Felipe dos Santos, no âmbito de seu trabalho de conclusão de curso, no qual investiga os conflitos ligados à atividade minerária dentro do PAE Lago Grande.
Acesse o mapa: https://drive.google.com/file/d/1EdggmDFaiVHJ66TMC1WNNWW4MhaXe2eP/view?usp=sharing
Movimento pela Soberania Popular na Mineração
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