Duas obras que discutem o problema agromineral no Brasil foram apresentados na atividade de sábado à noite

 

“Acho que vocês deveriam sonhar a terra pois ela tem coração e respira.” Davi Kopenawa

Por Aline Gallo (Cáritas NE3)

A programação da noite de sábado (15) no I Encontro Estadual da Bahia foi iniciada com o lançamento de duas obras importantes para o pensamento crítico na mineração e na luta pela terra no Brasil, colaborando para se discutir e repensar os sentidos do modelo de desenvolvimento que vigora. Se trata dos livros do Professor Felipe Milanez, “Lutar com a floresta: uma ecologia política do martírio em defesa da Amazônia” e “A mão de ferro da mineração nas terras de Carajás”, da Professora Juliana Barros. Ambos tratam de conflitos e resistências no território amazônico.

“Lutar com a floresta” narra o trajeto de Maria do Espirito Santo e José Claudio, casal que defendeu a Amazônia até seus últimos dias de vida, quando em 2011 foram assassinados enquanto se deslocavam de moto por uma estrada vicinal nas redondezas do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, no Pará. O crime fora anunciado. O casal são exemplos da resistência popular contra a depredação da floresta, verdadeiros ativistas e ambientalistas. Um terço do livro são das entrevistas na íntegra feita por Milanez com os dois, dando a oportunidade do leitor entender como o casal pensava e enfrentava as ameaças que ocorriam. A ideia é documentar o pensamento daqueles que lutam pela terra. “O livro mostra o pensamento dos defensores ambientais que tiveram suas vidas arrancadas pelo latifúndio. Mostrar como se formaram, como formaram suas vidas”, afirma Milanez. O livro pode ser adquirido pelo site da editora Elefante.

A mão de ferro da mineração nas terras de Carajás, Foto: @thatboipalo

Já a obra “A mão de ferro da mineração nas terras de Carajás” dedica-se a analisar as estratégias de aquisição de terras da mineradora Vale na região de Carajás, Amazônia oriental, associadas ao processo de expansão dos seus empreendimentos nos anos 2000. Para a Professora Barros, “a história de Carajás se repete em toda América Latina” e esta obra dá a possibilidade de refletir sobre como as lutas territoriais vivem em contradição com os grandes empreendimentos, evidenciando as formas de resistência dos Povos e Comunidades Tradicionais. A obra também pode ser adquirida pelo site da editora Letra Capital.

SOBRE OS AUTORES 

Felipe Milanez, (sociólogo, ecologista político e professor da Universidade Federal da Bahia ), Juliana Neves Barros, (professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, integrante do coletivo de pesquisa Desigualdade Ambiental) Foto: @thatboipalo

Felipe Milanez é sociólogo, ecologista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Realizou o doutorado em sociologia no programa de ecologia política European Network of Political Ecology (Entitle), do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal. Foi repórter e editor nas revistas Brasil Indígena (Funai) e National Geographic Brasil, além de atuar como freelancer para diferentes publicações, como Carta Capital e Rolling Stone, e como documentarista e roteirista para Vice.com, Netflix e TV Brasil. É coautor do livro Guerras da conquista: da invasão dos portugueses até os dias de hoje (HarperCollins, 2021) e co-organizador de diversos títulos, incluindo Routledge Handbook of Latin America and the Environment (Routledge, 2023) e Memórias sertanistas: cem anos de indigenismo no Brasil (Edições Sesc, 2015).

Juliana Neves Barros é professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (Cecult/UFRB) e integrante do coletivo de pesquisa Desigualdade Ambiental, Economia e Política e do grupo Cultura, Ambiente e Território. É mestre e doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Planejamento Urbano e Regional do Rio de Janeiro, onde atualmente realiza pesquisa de pós-doutorado sobre as relações entre ecologia política, decolonialidade e questões raciais. Graduou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo desenvolvido experiências no campo da assessoria jurídica popular. É também autora do livro “O Desencantamento das águas no sertão – crenças, descrenças e mobilização no projeto de transposição do rio São Francisco”, publicado por essa mesma editora.

 

Movimento pela Soberania Popular na Mineração e Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais