Mobilização popular aliada a vários setores da sociedade conseguiram barrar o projeto de Carvão

Por Laura Guido, da página do MAM
Foto: Reprodução/Mídia Ninja

Após três anos de muita luta, uma vitória popular foi conquistada contra a megamineração no Rio Grande do Sul. A Justiça Federal anulou o licenciamento ambiental do projeto de extração de carvão da empresa Copelmi, na Mina Guaíba, que previa a instalação de uma mina de carvão a céu aberto entre as cidades de Eldorado do Sul e Charqueadas, cerca de 16 quilômetros de Porto Alegre, fato que foi comemorado por militantes, ambientalistas, agricultores, advogados, comunidades tradicionais e organizações não-governamentais.

Municípios que seriam atingidos pelo projeto: Eldorado do Sul (RS), Glorinha (RS), Gravataí (RS), Guaíba (RS), Igrejinha (RS), Ivoti (RS), Montenegro (RS), Nova Hartz (RS), Nova Santa Rita (RS), Novo Hamburgo (RS), Parobé (RS), Portão (RS), Porto Alegre (RS), Rolante (RS), Santo Antônio da Patrulha (RS), São Jerônimo (RS), São Leopoldo (RS), São Sebastião do Caí (RS), Sapiranga (RS), Sapucaia do Sul (RS), Taquara (RS), Triunfo (RS), Viamão (RS).

Para explicar o que significa esse feito não só para o Rio Grande do Sul como para o Brasil, um dos países que mais sofre com a destruição ambiental e social causado pela mineração, a página do MAM conversou com Sabrina Lima, dirigente da organização no Estado.

Confira entrevista abaixo:

Como os setores que promovem a resistência no Rio Grande do Sul receberem a notícia da anulação da implantação do projeto da Mina Guaíba?
Foi um alívio imenso, porque é fato que a extração de carvão é uma das atividades mais poluentes e que coloca em risco não só a população próxima, mas o bioma, a qualidade da água, a qualidade de vida dos animais. Seria um impacto sem precedentes aqui.

E quais seriam esses impactos?
Primeiro a proximidade do projeto com a capital Porto Alegre, e também a proximidade em relação a reservas hídricas que são importantes para garantir o abastecimento de água, tanto da capital, quanto das microrregiões ao redor. Fora que é uma área onde há uma agricultura consolidada e orgânica, o selo e a garantia dessa produção seria colocado em risco em nome de um megaprojeto que não subsidiaria a economia do estado.

Além de tudo, provocaria um desemprego em massa porque estamos falando de diversas comunidades que têm o ciclo econômico voltado para a agricultura e que não poderiam mais produzir tendo elementos tóxicos e substâncias cancerígenas sendo liberados diariamente, porque não é só carvão, outros elementos químicos são utilizados pra fazer a pureza, entre esses elementos substâncias extremamente cancerígenas como mercúrio, arsênio, chumbo, urânio entre outros.

Como se dá a atuação do MAM na região Sul do país e como foi o processo de participação nessa resistência contra a Mina Guaíba?
O MAM aqui na região tem crescido bastante justamente pela ação popular, porque foi um conjunto de apoios jurídico e técnico para fazer a resistência que culmina com a criação do Comitê de Combate à a Megamineração no Rio Grande do Sul, um espaço importantíssimo de união dos movimentos que decide e que se reúne para pensar estratégias contra a mineração.

Por exemplo, cada audiência feita pela mineradora foi um processo interessante porque quando chegaram no município de Eldorado, nas áreas de assentamento, por exemplo, o que eles passavam era que o projeto já estava acertado e que eles teriam que sair do local. Então isso gerou aquele pânico de que logo eles perderiam seus espaços e nós tivemos que fazer várias mobilizações, assembleias pra convocar a população a compreender o que era o projeto e depois se juntar pra ir acompanhar presencialmente as audiências.

A mineradora sempre trazia um número grande de empregados de outras empresas para essas audiências (no caso de Arroio dos Ratos, são áreas que têm mineração aqui no Estado), para acompanhar e pregar as “coisas boas” da mineração, e apesar do espaço para a participação popular ser limitado, foram nas audiências que se enchiam de gente querendo falar sobre os riscos, dúvidas e sobre o que não queriam de jeito nenhum para a região.

Para finalizar, como você descreve a importância da participação popular nesse processo?
O posicionamento das comunidades que estavam passando por esse enfrentamento foi muito incisivo durante todo esse processo. Ir lá e dizer “não queremos esse projeto”, que não traria benefícios nem qualidade de vida aos seus foi revigorante.

Tiveram várias inconsistências ao longo desses três anos, o que nos deu a capacidade de analisar os projetos, sendo um processo muito participativo e que nos deu gás para dar continuidade a luta. Receber esta vitória é mais um avanço do movimento, porque a gente sabe que o carvão mata silenciosamente – isso a população compreendeu de forma muito rápida – e por isso disseram não.

Edição Raquel Monteath, do Coletivo de Comunicação do MAM