Explosão ocorreu na noite desta segunda-feira (06) e população de Barcarena (PA) já sente os males causados pela exposição à composição química

Por Dioclécio Gomes, da página do MAM

A explosão dentro dos galpões de beneficiamento da mineradora Imerys na noite desta segunda-feira (06), em Barcarena, no estado do Pará, espalhou uma fumaça branca que provoca um forte odor e prejudica a saúde da população das comunidades próximas à empresa.

Mas o alerta eleva-se ao nível máximo: não se trata de uma simples exposição à uma composição química utilizada pela mineradora para beneficiar o minério extraído. Segundo a pesquisadora e Doutora Simone Pereira, da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Ditionito de sódio (também conhecido como hidrossulfito de sódio) que explodiu na empresa tem enxofre na sua composição química.

“Esse enxofre misturado com a água da atmosfera forma o ácido sulfídrico (H2S), que é altamente tóxico e foi usado na guerra para matar pessoas”, alerta.

Segundo a Sigma-Aldrich Corporation, uma empresa americana de química, ciências da vida e biotecnologia, de propriedade da Merck KGaA, a ficha dos dados de segurança do Hidrossulfito de Sódio ou Ditionito de Sódio, classificado de acordo com as diretrizes da EU 67/548/CEE ou 1999/45/CE, informa que ele pode causar incêndio extremamente nocivo para quem ingerir e, por ventura, entrar em contato com os ácidos, pois que ele liberta gases tóxicos no ambiente.

“Há de se ter um grande cuidado. Ele causa problemas no trato respiratório, especialmente nos pulmões, provoca queimaduras e, quando o enxofre entra em contato com a água da atmosfera, também transforma-se no ácido sulfúrico que pode se precipitar em forma de chuva. É necessário fazer análises químicas e também a medição do H2S na atmosfera para ver se esse ácido realmente foi formado”, sugere Pereira.

Na avaliação dos professores que estudam a poluição por elementos tóxicos em recursos hídricos e problemas ambientais causados por indústrias e mineração na Amazônia, o comportamento da mineradora diante da explosão e a contaminação do ar é questionável.

“Causa estranheza a empresa não ter tido nenhum tipo de plano de contingenciamento para tirar aquela população dali, principalmente, a população do Distrito Industrial de Barcarena, Curuperé e Maricá, que são as mais afetadas naquela região ali pela empresa Imerys”, questiona a professora.

O recomendado é que as pessoas que tiveram contato ou apresentaram algum sintoma de ardência nos olhos, coceiras na pele, falta de ar e outros problemas relacionados à inalação do H2S dirijam-se aos pronto socorros da região.

Moradores já sentem os efeitos
Raylana Silva, moradora da Vila do Conde, onde a mineradora realiza o beneficiamento dos minérios, foi uma das afetadas com sua família dentro de sua casa pela fumaça oriunda do incêndio.

“No início o cheiro era suportável, mas depois foi ficando mais forte. E, mesmo aqui em casa, todos usando máscaras, dava para sentir o cheiro. Eu comecei a sentir muito enjoo, vontade de vomitar e depois a sentir falta de ar. Meus olhos começaram a lacrimejar. Eu comecei a vomitar e me sentir muito fraca. E desmaiei”, relata a jovem.

Raylana diz que, mesmo hoje, sua família segue com uma sensação de “garganta seca”. Moradores da comunidade de Canaã, que faz divisa com a Vila do Conde, também se sentem prejudicados com os desdobramentos da explosão de ontem na mineradora.

“Nós nos trancamos em casa, mas tem umas pessoas que estão no hospital com problemas respiratórios. Ontem a noite tudo ficou branco, pensei que estava tudo incendiado aqui. Tipo uma fumaça gelada que doía no peito quando respirava. Tomei um banho e ficamos em casa”, relata uma outra jovem de 21 anos, moradora da Comunidade Canaã, que preferiu não se identificar.

Mudança no rio
Além dos depoimentos sobre os males causados pela fumaça da explosão na mineradora, os moradores também relataram alterações no rio que corre nas imediações da empresa e das comunidades. “Esse rio passa aqui em nossa comunidade. Ele vem lá da Vila do Conde e nossa comunidade faz divisa com ele – a cor dele mudou, ficou todo esbranquiçado”, denuncia a jovem sobre a aparência do rio Dendê depois da explosão na empresa Imerys.