Após quatro meses das ameaças de morte que sofreu em razão de sua atuação contrária a ampliação dos projetos de mineração de bauxita na da Serra do Brigadeiro em Minas Gerais, Frei Gilberto se mantém firme na luta ao lado da comunidade de Belisário, distrito de Muriaé.

Agora incluído no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos de Minas Gerais, o Frei conta que o apoio da comunidade tem sido fundamental nos últimos meses. “Senti que houve uma mobilização muito grande da comunidade e de fato me sinto bastante protegido. As pessoas têm assumido que a ameaça não foi ao Frei Gilberto, mas a todos aqueles que acreditam que a vocação do distrito é para agricultura familiar e para o turismo”.

Ainda em fevereiro, mais de 70 organizações, movimentos sociais, populares e sindicais assinam nota em solidariedade ao Pároco, que foi ameaçado de morte após a realização de uma missa na comunidade. As organizações signatárias da Nota de Solidariedade repudiam a ameaça e exigem dos órgãos “a garantia de segurança à vida e do direito de lutar pelas causas coletivas. Ao mesmo tempo expressamos nosso total apoio e solidariedade ao companheiro Frei Gilberto e aos sujeitos que se dedicam na luta em defesa do território da Serra do Brigadeiro contra os interesses do capital mineral na região”.

Nesta segunda-feira, 26, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realiza uma Audiência Pública para discutir o atentado sofrido por Frei Gilberto no dia 19 de fevereiro, assim como as violações de direitos promovidas pela CBA / Votorantim e os impactos da mineração na região da Serra do Brigadeiro. Foram convidados para a audiência pública representantes do Governo do Estado, Polícia Civil, Ministério Público, Câmara de Vereadores de Muriaé, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais e lideranças locais. A atividade acontece às 18 horas, na sede do Grupo de Artesãos de Belisário.

Serra do Brigadeiro

Há 20 anos as comunidades e organizações populares do entorno da Serra do Brigadeiro se mobilizam contrárias aos impactos ambientais e sociais gerados pela mineração de bauxita na região, que tem à frente a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao grupo Votorantim.

A região da Serra do Brigadeiro, situada na Zona da Mata de Minas Gerais, é conhecida nacionalmente por sua rica biodiversidade, amplas áreas preservadas de mata atlântica, belezas naturais e uma agricultura familiar e camponesa consolidada com forte matriz agroecológica. Além disso, a região abriga a segunda maior reserva de bauxita do país, o que despertou, desde a década de 80, o interesse de mineradoras em explorar as jazidas minerais objetivando o lucro sem se importar com as consequências nefastas da mineração na região.

Confira a entrevista do Frei Gilberto Teixeira ao site do MAM.

MAM – Frei, após a ameaça, quais os desdobramentos que ocorreram?

Frei Gilberto – Depois do episódio de fevereiro muita coisa mudou em Belisário e em minha vida particular. Devido à insegurança começamos a tomar mais cuidado, agora estou sempre acompanhado. Houve também uma aproximação maior da Polícia Militar do Distrito e o governo do Estado me incluiu no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, senti que houve uma mobilização muito grande da comunidade e de fato me sinto bastante protegido aqui.

Este triste episódio fortaleceu as convicções da comunidade em relação à luta contra a mineração, uma luta que não é minha, mas da comunidade. Quando cheguei aqui já existia essa resistência, então as pessoas têm assumido que a ameaça não foi ao Frei Gilberto, mas a todos aqueles que acreditam que a vocação de Belisário é para agricultura familiar, é para o turismo e temos que das águas que temos em abundância aqui.

Em algum momento pensou em desistir da luta contra a mineração?

Recebi muitas manifestações de apoio e solidariedade e isso me ajudou muito a fortalecer a convicção de que estou no caminho certo, repito, a luta não é minha é da comunidade, é luta nossa. Estou junto com a comunidade e em nenhum momento tive vontade de desistir ou ir embora de Belisário como foi anunciado. Em diálogo com o bispo Diocesano Dom José Eudes concordamos que o lugar mais seguro para mim no momento era continuar em aqui.

Vamos continuar lutando, resistindo para que este lugar seja preservado, porque aqui não é lugar de mineração, não queremos que a mineradora chegue aqui e vamos fazer de tudo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, desenvolver a agricultura familiar, o turismo e acima de tudo cuidar das nossas nascentes, cuidar dessa água que é tão boa e tão pura.

Estamos vivendo um cenário muito violento e de muitas perseguições às pessoas que atuam contra a retirada de direitos. Como reagiu às inúmeras manifestações de apoio e solidariedade?

Fiquei surpreso com o grande número de manifestações, logo no primeiro dia em que tornamos pública a ameaça recebi muitos amigos, como a Fraternidade Franciscana, todos vieram ao meu encontro, me apoiaram e logo foi juntando mais gente. Nos primeiros dias veio a manifestação de apoio do Dom José Eudes, padres, dioceses, inclusive a missa da 5ª feira Santa que, tradicionalmente, acontece na Catedral, esse ano foi transferida para Belisário como gesto de apoio. Os movimentos sociais assinaram o manifesto, recebi manifestações de apoio de vários países como a Noruega, EUA, Alemanha, muita gente se sensibilizou e me senti bastante protegido pela ampla divulgação, com a repercussão que causou, isso ajuda muito.

Sou muito grato aos movimentos, às pastorais e a todos que estão de fato comprometidos com a vida.

Como está hoje a situação da Serra do Brigadeiro com as ameaças da mineração na região?

A mineradora continua seu trabalho vindo desde Itamaraty de Minas, já passou por Miraí, está em São Sebastião da Vargem Alegre e agora chegando em Rosário de Limeira onde estão de fato com uma atitude ostensiva, tentando se aproximar da comunidade. Mas o nosso movimento está presente, está se unindo à população de Rosário de Limeira e uma forte resistência tem se manifestado por lá. Com os últimos episódios aqui em Belisário cresceu muito a resistência.

Temos buscado apoio nos órgãos públicos, o prefeito de Muriaé já manifestou  várias vezes que a vocação de Belisário não é para mineração e que se depender dele a mineração não entra aqui. A Câmara Municipal de Vereadores também tem se manifestado contrária, então isso reforçou muito a luta, mas principalmente pela mobilização da própria comunidade.

A mineradora tem tentando se aproximar, já entrou em contato com várias lideranças da comunidade, mas todos têm se mostrado bastante resistentes, entendemos que terão muita dificuldade para entrar aqui e se Deus quiser não vão conseguir, porque Belisário não é para mineração, Belisário é para a vida.

Por Comunicação MAM