A Escola Nacional Florestan Fernandes recebeu, entre 13 de março a 28 de abril, o I Curso sobre Introdução ao Problema Mineral no Brasil – Turma Chico Mendes, fruto de uma parceria com o MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração e demais movimentos da Via Campesina Brasil.

Nos 45 dias de atividades, o curso reuniu 72 pessoas de sete estados do país e teve como objetivo principal aprofundar estudos teóricos acerca da questão mineral no Brasil. “Ter a possibilidade reunir pessoas de vários estados do Brasil em contradição com a mineração trouxe um saldo organizativo importante ao MAM. Conseguimos suscitar na turma uma criticidade e entendimento sobre o mundo da mineração em seus diversos aspectos e provocá-los a incidir sobre a problemática como sujeitos e responsáveis pela construção da organização, além de prosseguir criticamente formando na base onde pisam e onde existe o conflito mineral”, destaca Márcio Zonta da Coordenação Nacional do MAM.

No dia 18 de março, os cursistas participaram do primeiro ciclo de debates que teve como tema a “Conjuntura da Mineração no Brasil”, com o professor Luiz Jardim Wanderley da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e membro do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS). A análise apresentou elementos sobre a situação da mineração na atualidade, os interesses econômicos e políticos que a cerca, além dos impactos nas comunidades atingidas, bem como os desafios da luta contra extração e apropriação privada dos recursos naturais.

Ainda na programação do curso, os militantes participaram de formações sobre histórico do MAM, conjuntura da mineração no Brasil, formação histórica do Brasil, geologia, economia política, cultura e luta de classes, questão racial, formação econômica do Brasil, entre outros temas que contribuíram para ampliar a visão de mundo dos participantes.

45 dias de aprofundamento teórico e prático sobre a mineração no Brasil/Crédito foto: Marcelo Cruz

45 dias de aprofundamento teórico e prático sobre a mineração no Brasil/Crédito foto: Marcelo Cruz

Visita em regiões de mineração
Na quinta semana de curso, entre os dias 10 a 16 de abril, os participantes do curso foram divididos em dois grupos e viajaram para regiões de mineração em Minas Gerais e São Paulo.

Em Minas Gerais 37 pessoas participaram de atividades de formação e trabalho de base na região da Zona da Mata, em especial nos municípios Muriaé, Miradouro e Rosário de Limeira ameaçados pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao grupo Votorantim, que pretende explorar bauxita nas zonas rurais. O grupo também visitou os municípios de Viçosa, Paula Cândido e Presidente Bernardes ameaçados pela passagem de um mineroduto da multinacional Ferrous Resources.

Para Rosilene Pires, da coordenação estadual do MAM/MG, o trabalho da turma durante a semana teve papel importante para o fortalecimento da organização na região e preparação para as próximas lutas. “A vinda de militantes de várias  regiões do país fortalece o sentimento e convicção de que temos de estar organizados em um movimento nacional que combata o avanço do capital mineral e que acumule forças para superarmos este modelo de mineração que não tem nada a oferecer ao Brasil, a não ser rastros de exploração e destruição. Outra coisa importante foi que a militância ao longo da semana agitou a região para a construção das lutas para o próximo período, entre elas a realização de assembleias populares para debater os impactos do capital mineral na região e a nível nacional”.

Visita da brigada à Vila Braz, no Vale do Ribeira (SP)

Visita da brigada à Vila Braz, no Vale do Ribeira (SP)

Outra parte da brigada de militantes do curso visitou Cajati, no Vale do Ribeira, município castigado pela mineração de fosfato.Depois de cinquenta anos de mineração, Cajati com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo do estado de São Paulo.

“Tivemos muito conteúdo teórico e prático com isso deu pra perceber que na luta teoria e prática não se separam e confirmamos isso na vivência, onde percebemos de forma bem concreta como se dá a mineração nas comunidades. A comunidade que eu moro não é atingida tão, diretamente, pela mineração e eu ainda não tinha vivido isso de forma direta e foi muito impactante. No Vale do Ribeira, a questão da mineração junto com agronegócio age de forma muito cruel nas comunidades, uma situação bastante crítica”, disse Jucilene Moreira, que mora no estado de Goiás.

No Vale do Ribeira, a brigada atuou a zona rural da Vila Braz, onde a mineradora Vale contaminou a água, o solo e comprometeu vários rios da comunidade para pesca, lazer e utilização da água.

Assembleias Populares

A Turma Chico Mendes com a missão de contribuir na preparação, formação e mobilização para a realização das Assembleias Populares da Mineração – um debate urgente e necessário que serão realizadas em 100 municípios de 11 estados do país, que estão em contradição com a mineração.

Comunicação MAM